Bebê que morreu em hospital de Florianópolis passou 2 dias à espera de leito de UTI, diz mãe
Menina de dois meses estava com quadro agravado de bronquiolite. Saúde informou que investiga as causas da morte.

A bebê de dois meses que morreu no Hospital Infantil Joana de Gusmão, em Florianópolis, ficou dois dias à espera de uma vaga de UTI na unidade, de acordo com a mãe, Samara Ester dos Santos. A morte foi confirmada pela Secretaria de Estado da Saúde (SES) na segunda-feira (13).
A pasta informou, na manhã desta quarta-feira (15), ter descartado que o óbito tenha relação com a falta de UTI (leia nota abaixo).
Segundo Samara, a primeira internação da menina aconteceu no início de maio, quando o quadro de bronquiolite foi detectado. Na época, a bebê Maria Sofia deu entrada no hospital já em um leito de UTI, onde ficou por cerca de 13 dias. A mãe conta, porém, que a menina ganhou alta quando a instituição começou a ficar superlotada, mesmo sem condições de voltar para casa.
"Ela não poderia ter saído, não tava 100%. Liberaram ela porque tinha mais crianças para ir à UTI e é isso que eles estão fazendo, liberando quem não precisa mais de respirador e mandando para casa", informou a mãe.
No hospital, os 29 leitos de UTI pediátrico e neonatal estão ocupados, de acordo com dados da SES atualizados às 11h desta terça-feira (14).
Em âmbito estadual, a taxa de ocupação de UTIs pediátricas também é de 100%. Em relação aos leitos neonatal, 97% das 175 vagas no Estado estão ocupadas.
De acordo com Samara, a bebê piorou e a família precisou voltar à unidade. "Ela teve parada respiratória na ambulância, quando a gente estava indo ao hospital novamente", conta.
O g1 SC tentou contato com a SES nesta terça-feira, mas não teve retorno até a última atualização da matéria. Na segunda, após a confirmação do óbito, a pasta informou que investiga as causas da morte da bebê e que, até aquele momento, não havia "qualquer confirmação de que o lamentável fato tenha ocorrido em decorrência da não transferência do paciente para a Unidade de Terapia Intensiva".
Segunda internação
Maria Sofia foi internada pela segunda vez em 4 de junho, segundo a mãe, e piorou após quatro dias no hospital. Foi na quinta-feira (9) que a paciente precisou novamente de um leito de UTI, mas teve a transferência negada por falta de vagas no local. Ela morreu no início da madrugada de sábado (11).
A mãe afirmou que os médicos tentavam salvar a vida da criança, mas não havia recursos disponíveis para a transferência. "É desesperador, tava vendo minha filha indo embora na minha frente e não podia fazer nada", afirma.
Com a piora no quadro de bronquiolite, que se agravava com uma pneumonia, a menina foi enviada para a emergência do hospital poucas horas antes de falecer. Lá, passou por procedimentos similares aos de uma unidade de terapia intensiva, mas sem os aparelhos e suportes necessários para o tratamento, segundo o que relembra a mãe.
"Na sexta-feira de manhã a médica me disse que um pulmão da Sofia já estava fechado e eles não tinham onde colocar ela. Os médicos que a atenderam antes de ela falecer ficaram comigo até o fim. As enfermeiras choraram comigo pedindo desculpas, eles [os médicos] estão sem suporte. Para fazer reanimação da Sofia, por exemplo, não tinha aparelho, se viraram em mil. Elas falaram: mãe, desculpa, a gente não tinha mais o que fazer", relembra.
A Secretaria do Estado da Saúde afirmou estar prestando assistência à família após a morte, mas foi contraditada pela mãe da menina, que negou a afirmação ao dizer que, em nenhum momento, o hospital entrou em contato com eles.
Segundo ela, entre às 00h23 do sábado (11), quando foi detectada a morte de Sofia, e esta terça-feira (14), não houve nenhuma conversa entre a instituição e os familiares. Questionada pelo g1 SC, a pasta voltou a dizer que está sensibilizada com o caso e "e prestando todo o apoio à família" (leia abaixo).
O que diz a Saúde
"A Secretaria de Estado da Saúde (SES) está sensibilizada e prestando todo o apoio à família da paciente de dois meses que veio a óbito, no Hospital Infantil Joana de Gusmão, na madrugada do dia 11.
A SES descarta que o óbito tenha relação com a falta de UTI. A paciente estava passando pela segunda internação na unidade hospitalar e recebeu plena assistência das equipes altamente capacitadas do hospital infantil de referência em Santa Catarina, que é o HIJG. Mas devido ao agravamento da sua condição clínica, não resistiu.
A SES abriu uma sindicância, que é um procedimento formal, para apurar os fatos ocorridos no atendimento da paciente."
Fonte: G1