Detenção onde brasileiro passou mal antes de morrer nos EUA está em más condições
Relatório foi feito durante inspeção surpresa em fevereiro. Kesley Vial morava em Camboriú com a avó e não via a mãe, que morava nos EUA, há quase 20 anos.

O centro de detenção onde o brasileiro Kesley Vial, de 23 anos, passou mal antes de morrer sob custódia da agência de imigração dos Estados Unidos (ICE, na sigla em inglês) apresenta problemas sanitários, falta de funcionários e de monitoramento dos detidos, segundo relatório da Agência de Inspeção Geral (Office of Inspector General), que pertence ao Departamento de Segurança Nacional (Department of Homeland Security) dos Estados Unidos. O órgão fez uma visita surpresa ao centro de detenção em fevereiro.
Kesley Vial morreu na quarta-feira (24), cerca de quatro meses após ser preso ao tentar atravessar a fronteira com o México. O jovem foi encontrado em 17 de abril inconsciente no centro de detenção Torrance, que fica no estado do Novo México, nos EUA. Ele chegou a ser levado ao hospital, mas não resistiu.
O que diz o relatório de inspeção
A visita surpresa de inspeção do centro de detenção Torrance for feita entre 1º e 3 de fevereiro deste ano, e foi encaminhada à agência de imigração dos EUA em 16 de março. O objetivo da visitação era verificar se as condições do local estavam em conformidade com a lei do país.
O documento afirma que o centro de detenção deveria ter 245 funcionários, mas havia 133. Por causa disso, eles precisavam trabalhar mais de 6 turnos extras para cobrir a falta de pessoal.
Também foram relatadas irregularidades sanitárias. Foram visitadas 157 celas em oito prédios com detidos e 83 delas tinham problemas de encanamento, incluindo privadas e pias que estavam inoperáveis, entupidas ou continuamente jorrando água. Além disso, havia torneiras sem água quente.
Outros problemas encontrados pela equipe de inspeção foram mofo e vazamentos. Conforme o relatório, há perigo para os detidos e funcionários, que podem escorregar ou cair. Além disso, há o risco à saúde respiratória por causa do mofo.
Em relação à supervisão dos detidos, a equipe de inspeção verificou que os funcionários não faziam o monitoramento propriamente. Isso porque as salas de controle são separadas dos detidos por paredes e janelas, o que causa áreas de baixa visibilidade, além do problemas da falta de pessoal.
A equipe de inspeção descreve no relatório que encontrou vários pontos cegos embaixo de escadas e atrás de paredes próximas à area de banho ou dos telefones. Nesses locais, o monitoramento de era mais difícil. Um detido entrevistado pela equipe afirmou que ele sentia que não conseguiria chamar a atenção dos funcionários caso houvesse uma emergência.
Após a descrição desses problemas, o relatório recomendou ao corpo diretor da agência de imigração que realocassem, imediatamente, todos os detidos do centro de Torrance e não encaminhassem mais nenhum ao local até que o lugar resolvesse a questão da falta de funcionários e das condições apropriadas para abrigar todos.
Prisão e morte de Kelsey Vial
O jovem foi detido na cidade de El Paso, no Texas, estado vizinho ao Novo México, por agentes da patrulha de fronteira depois de entrar no país sem documentação. A imigração americana diz que o brasileiro teria sido capturado em 22 de abril, mas admite que a data pode não ser exata.
Veja abaixo a cronologia até a morte de Vial:
Aproximadamente no dia 22 de abril deste ano, agentes da fronteira dos Estados Unidos encontraram Vial após ele entrar ilegalmente no país na cidade de El Paso, estado do Texas
Vial ficou sob custódia da agência de imigração, inicialmente em El Paso, a partir de 29 de abril, aguardando os procedimentos de deportação
Enquanto esperava, ele foi transferido para o centro de detenção Torrance. A agência de imigração não especificou se ele foi levado para lá no próprio dia 29 de abril ou depois
Em 17 de agosto, enquanto estava no centro de detenção Torrance, Vial foi encontrado inconsciente por um funcionário do local. Conforme a agência de imigração, ele recebeu atendimento médico e depois foi transferido ao Hospital da Universidade do Novo México
Em 24 de agosto, ele morreu no hospital
A família do brasileiro Kesley Vial, de 23 anos, busca ajuda para levar o corpo dele de Houston, no Texas, até Dumbury, em Connecticut, onde ele se reencontraria com a mãe.
Segundo o primo dele, Dayvison Correa da Silva, mãe e filho não se viam há quase 20 anos, desde que ela se mudou para os Estados Unidos. Kesley morava em Camboriú, no Litoral Norte de Santa Catarina, com a avó.
Nas redes sociais, a mãe de Kesley fez um desabafo e pediu ajuda para o translado do filho.
"Todos que puderem me ajudar doando qualquer quantidade. Passei 19 anos longe dele, sempre na esperança de dar uma vida digna a ele. Meu maior sonho era lutar para que um dia estivesse aqui comigo", escreveu.
Além disso, familiares e amigos criaram uma vaquinha online. O valor estipulado foi de U$ 28 mil. Até às 17h de segunda-feira (29), U$ 17.387 foram arrecadados.
Fonte: G1